Eis que depois de mais de três anos estou aqui juntando palavras
novamente, não que eu tenha a aspiração que alguém vá ler essas linhas que
publico aqui, porém deu vontade de retomar esse hábito que outrora foi tão
reconfortante e que talvez agora seja novamente um escape das coisas que têm
rolado.
Nesse tempo que fiquei ausente vivi coisas que jamais pude
imaginar, instantes que talvez não pudesse materializar nem mesmo na idealização
de uma vida perfeita e foram realmente muito importantes para que eu pudesse colocar
na cabeça que talvez existisse a possibilidade de uma vida menos rude. É claro
que alguns dedos continuaram em riste e alguns preconceitos são imutáveis na
cabeça de alguns, gente idiota não muda do dia pra noite, só que isso não mais
me atingia e eu não precisava de noites inteiras de ilusões etílicas para que
pudesse encarar os fatos.
Uma âncora, uma presença, uma única certeza que alguém está
lá te esperando, uma vida que se interessa pela tua, que se preocupa com tua saúde,
que está disposta a te motivar a melhorar, uma companhia agradável mesmo quando
merdas gigantes rolavam, inúmeros gostos compartilhados e um ser responsável
por noites incríveis de corpos em sintonia trocando carinhos que fazem esquecer
o mundo.
Rolou, rolou tudo isso e mais um pouco. Sabe a sensação de
acordar cheio de problemas e lembrar aquela presença, bater no peito e pensa –
Foda-se, ela ta lá e isso é que importa – pois é...
Só que as coisas mudam, as pessoas mudam e isso jamais pode
ser considerado um defeito. A minha âncora se soltou. Novamente eu navego por
mares agitados, águas turvas e tempestades intermináveis. Ficou um misto fracasso,
decepção e gratidão. Fracasso por não ter sido capaz de fazer o suficiente pra
continuar na calmaria, decepção por não ter tido a chance de reforçar as
amarras que me mantinham em curso e gratidão pelo fato dessa âncora ter me
segurado durante tanto tempo impedindo que o naufrágio tivesse ocorrido antes.
Continuo tentando navegar, escolhendo as rotas menos
perigosas, só que talvez essa viagem seja muito onerosa para um único
tripulante, sem âncora, sem bote salva-vidas, com um leme que nem sempre obedece
aos comandos e sempre na iminência de dar com o casco numa rocha para afundar
devagarzinho, com os pulmões tomados de água bloqueando a respiração e
terminando com mais uma jornada. Talvez apareça outra âncora, uma bússola ou
simplesmente algum outro tripulante, mas todos sabem que quando as coisas ficam
complicadas demais a responsabilidade é toda do capitão.