domingo, 13 de setembro de 2015

A ÂNCORA SE FOI

Eis que depois de mais de três anos estou aqui juntando palavras novamente, não que eu tenha a aspiração que alguém vá ler essas linhas que publico aqui, porém deu vontade de retomar esse hábito que outrora foi tão reconfortante e que talvez agora seja novamente um escape das coisas que têm rolado.
Nesse tempo que fiquei ausente vivi coisas que jamais pude imaginar, instantes que talvez não pudesse materializar nem mesmo na idealização de uma vida perfeita e foram realmente muito importantes para que eu pudesse colocar na cabeça que talvez existisse a possibilidade de uma vida menos rude. É claro que alguns dedos continuaram em riste e alguns preconceitos são imutáveis na cabeça de alguns, gente idiota não muda do dia pra noite, só que isso não mais me atingia e eu não precisava de noites inteiras de ilusões etílicas para que pudesse encarar os fatos.
Uma âncora, uma presença, uma única certeza que alguém está lá te esperando, uma vida que se interessa pela tua, que se preocupa com tua saúde, que está disposta a te motivar a melhorar, uma companhia agradável mesmo quando merdas gigantes rolavam, inúmeros gostos compartilhados e um ser responsável por noites incríveis de corpos em sintonia trocando carinhos que fazem esquecer o mundo.
Rolou, rolou tudo isso e mais um pouco. Sabe a sensação de acordar cheio de problemas e lembrar aquela presença, bater no peito e pensa – Foda-se, ela ta lá e isso é que importa – pois é...
Só que as coisas mudam, as pessoas mudam e isso jamais pode ser considerado um defeito. A minha âncora se soltou. Novamente eu navego por mares agitados, águas turvas e tempestades intermináveis. Ficou um misto fracasso, decepção e gratidão. Fracasso por não ter sido capaz de fazer o suficiente pra continuar na calmaria, decepção por não ter tido a chance de reforçar as amarras que me mantinham em curso e gratidão pelo fato dessa âncora ter me segurado durante tanto tempo impedindo que o naufrágio tivesse ocorrido antes.
Continuo tentando navegar, escolhendo as rotas menos perigosas, só que talvez essa viagem seja muito onerosa para um único tripulante, sem âncora, sem bote salva-vidas, com um leme que nem sempre obedece aos comandos e sempre na iminência de dar com o casco numa rocha para afundar devagarzinho, com os pulmões tomados de água bloqueando a respiração e terminando com mais uma jornada. Talvez apareça outra âncora, uma bússola ou simplesmente algum outro tripulante, mas todos sabem que quando as coisas ficam complicadas demais a responsabilidade é toda do capitão.