terça-feira, 21 de junho de 2016

UMA BELA VIAGEM



 Imagine-se com a vida num marasmo, sem nada de bom acontecendo, uma rotina estressante, problemas acumulados, mágoas guardadas, dias maçantes e feridas ainda em fase de cicatrização. De repente você resolve fugir um pouco disso tudo e sair para dar uma volta e encontra um papel caído ao chão. Esse papel é um bilhete para embarcar em um trem, uma viagem, porém nada consta no destino, está escrito apenas a data e o horário da partida: hoje e agora.
A dúvida começa a comandar os seus pensamentos, afinal por que embarcar ou não nessa jornada desconhecida? Só que o marasmo é tanto que você se dá conta que nada tem a perder e entra naquele vagão que parece especialmente preparado para te receber.
A máquina apita e a composição começa a se mover lenta e calmamente quando um alívio instantâneo toma conta dos seus pensamentos onde a única coisa sensata a fazer é admirar a paisagem. Você abre a cortina devagar, até com um pouco de receio e se depara com uma bela vista que jamais poderia perceber se não tivesse embarcado.  Um lago de uma cor brilhante e viva lhe transmite uma paz que há tempos não experimentava e risadas agradáveis começam a ecoar suavemente nos seus ouvidos.
A viagem vai seguindo e a paisagem continua sendo uma atração tão relaxante que a última coisa que você pensa é tirar os olhos da janela, porque as imagens transmitidas se comparam as melhores cenas que já ocorreram até então na sua vida, os sons soam como uma canção perfeita, com todos os instrumentos em perfeita harmonia e uma voz suave cantando frases bonitas que parecem ter sido compostas exclusivamente para você.
O trem segue sem percalços, numa velocidade delicada que não produz um único solavanco e a cada momento a paisagem vai se moldando a tudo que você imaginava quando pensava em fazer uma viagem. Os lugares são como telas pintadas com um esmero absoluto onde cada detalhe se encaixa com o único propósito de encantar a íris dos seus olhos e a cada novo olhar surge uma surpresa que acaba por tirar os sorrisos que há tempos estavam escondidos. Você percebe que já está há muito tempo viajando, embora o seu cérebro teime que só se passaram alguns minutos. Alguns cenários parecem ser familiares, como se já tivessem sido visitados por você em alguma parte da sua existência, mas você não se importa, porque embora já conhecidos, te transmitem uma sensação tão boa que poderia ser repetida durante anos. É como um romance de almas, que não precisa de toque para te deixar feliz, um encontro de ideias e sonhos similares, que andam lado a lado sem um invadir o espaço do outro.
E essa viagem pode continuar o tempo que você quiser, a paisagem te promete longos anos á disposição para que você possa admirá-la e sempre que possível ela se transformará para que você possa se surpreender com novas formas e cores. Uma oportunidade de viajar assim chega sem aviso, mas não pense que é por acaso, sempre há uma razão para que você seja contemplado com tamanho acalento, pode ser para um recomeço ou uma chance de sentir de novo algo que estava esquecido dentro de um coração duro. Quem sabe até mesmo possa ser a paisagem que esteja precisando de alguém para admirá-la com um olhar mais cuidadoso. Independente qual seja o motivo, sempre vale a pena embarcar mesmo sem saber pra onde, porque uma viagem desse tipo jamais irá levá-lo a um destino não desejado.  

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