domingo, 10 de abril de 2011

O REJEITADO

Celma era uma jovem de 16 anos que descobriu que estava grávida e tão logo soube da notícia foi contar e Edson, seu namorado. Edson berrou com Celma, dizendo que aquilo era um golpe e que não iria assumir a criança. Desolada, Celma volta para casa e conta o acontecido aos pais, que sem pensar duas vezes a expulsam de casa somente com a roupa do corpo. Edson já estava longe.
Celma vai para as ruas , onde tem que disputar espaço com mendigos e prostitutas, sendo enxotada e ofendida a cada esquina.
O tempo passa e numa noite chuvosa Celma sente as primeiras contrações , pede ajuda para ir ao hospital pois sente que irá dar a luz nas próximas horas, porém roda a cidade toda sozinha em busca de um leito, que é negado em todos centros de saúde possíveis. Celma dá a luz na rua mesmo, em um beco escuro e quando ouve o choro do menino, o abandona em uma caixa de papelão.
O menino é encontrado e levado ao orfanato público, onde é batizado com o nome de João e ficaria ali até alguém decidir adotá-lo.
Os anos correm e João não desperta interesse de nenhuma família, talvez pelo fato de ser magro e de cor parda, enquanto muitos iam , João ficava.
As outras crianças não gostavam de João e o garoto crescia solitário, sendo excluído das brincadeiras dos outros. João ia crescendo um garoto triste e sem interesse em conviver com outras pessoas.
Com 15 anos João conheceu sua primeira paixão, uma menina que estudava no mesmo colégio, que tinha o nome de Simone. João ensaiava muito para o dia que tomasse coragem de falar com ela, pois sabia que esse dia chegaria.
Perto do baile de fim de ano do colégio, João finalmente se decidiu e convidou Simone para acompanhá-lo, cheio de esperança nos olhos e com um bombom em forma de rosa que havia roubado em algum lugar. Simone conseguiu ser a pessoa mais cruel do mundo, pois berrava que jamais seria acompanhada por um garoto sem família, feio e pobre. Jogou o bombom no chão, pisou e mandou que João nunca mais dirigisse a palavra à ela. João chorou por uns três dias, mas decidiu não falar mais com a garota de quem tento gostava.
Aos 18 anos, João teve que deixar o orfanato onde viveu até então, pois como já era maior de idade não poderia mais ficar ali e teria que arrumar trabalho para se manter. João saía cedo e voltava tarde e ninguém o chamava nem sequer para uma entrevista. João teve que ir pra rua.
Depois de um certo tempo morando embaixo de viadutos e marquises, João se encheu. Estava cansado da vida que levara até agora. Procurou um prédio, o mais alto que encontrou, e subiu as escadas até o topo. Lá em cima, João pensou na sua jornada de rejeições e se perguntou por que não recebeu uma chance sequer da vida.
Sem pensar muito João atirou-se e caiu de cabeça no asfalto. João teve morte cerebral e como tinha tirado documentos no orfanato onde viveu, seus órgãos seriam doados. Após a retirada dos órgãos, João foi enterrado como indigente, já que não tinha família sua última morada seria uma cova pública, sem lápide mesmo.
Num hospital longe dali, um senhor de 45 anos aguardava um transplante de coração ansiosamente, pois já estava nas últimas. A família vibrou quando o médico deu a notícia que chegava de outra cidade o coração tão esperado. Era o coração de João.
O transplante aconteceu após alguns exames e foi considerado um sucesso. Porém uma semana depois, o senhor que tanto esperou por aquele coração, faleceu. O organismo do senhor não aceitou aquele coração e o levou a morte. João que havia morrido alguns dias antes, não pôde ver sua última rejeição.

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